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Suavização das ideias patriarcais nos contos de fadas: uma tradução comentada de Charles Perrault

Mémoire : Suavização das ideias patriarcais nos contos de fadas: uma tradução comentada de Charles Perrault. Recherche parmi 298 000+ dissertations

Par   •  16 Décembre 2016  •  Mémoire  •  3 258 Mots (14 Pages)  •  772 Vues

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Suavização das ideias patriarcais nos contos de fadas:

uma tradução comentada de Charles Perrault

Ligia Zerrenner Martines

Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, São Paulo, Brasil

ligiazm@gmail.com

Resumo: A partir de uma tradução comentada do francês para o português brasileiro de La Barbe Bleue, este artigo pretende discutir os valores patriarcais presentes nos contos de fadas antigos e de que modo a tradução pode suavizar tais noções, atualizando a história ao pensamento moderno, mas sem afastá-la drasticamente da versão original do texto.

Palavras-chave: tradução comentada; patriarcalismo; contos de fadas; Charles Perrault

Introdução

O trabalho do tradutor não se pretende único, nem definitivo; bem como os estudos tradutológicos atuais não se pretendem normativos, definindo regras do que pode ou não ser feito ao produzir uma tradução. Ao contrário do que acontecia no passado, hoje os estudos são majoritariamente descritivos, baseando-se, por exemplo, na análise dos processos tradutológicos, na crítica, na comparação entre traduções e nos questionamentos sobre o papel e o lugar da tradução e dos tradutores. O estudo específico da tradução comentada mostra-se difícil, visto que ainda não há um consenso entre estudiosos sobre esse gênero em construção. Questionam-se a análise dessa tradução tão característica, sua função, as estratégias utilizadas na elaboração dos comentários, de qual forma devem ser apresentados e, inclusive, se a tradução de um texto não seria, ela mesma, um comentário.

O gênero textual traduzido, o contexto de tradução e o público a alcançar são algumas das variantes que influenciarão as escolhas do tradutor e poderão modificar completamente o resultado final dos textos - inclusive de um mesmo texto traduzido por pessoas diferentes ou por uma mesma pessoa em contextos distintos. Neste trabalho, é posta em análise a tradução comentada do conto La Barbe Bleue, publicado por Charles Perrault em 1697. Os contos de fadas carregam muito mais do que o puro entretenimento ao leitor. Este é um gênero literário repleto de simbologias e, conforme define Maysa Alves, ao traduzi-lo é necessário atentar-se não apenas para a passagem das palavras de uma língua a outra, mas também para os significados implícitos que devem ou não ser repassados ao leitor, de acordo com sua faixa etária.

No primeiro contato com La Barbe Bleue, de Charles Perrault, no âmbito da disciplina Tradução Comentada do Francês, minha ideia era preparar uma tradução pró-fonte (traduction sourcière), tão literal quanto possível, sem grandes alterações do texto original, ainda que este me parecesse um tanto diferente do padrão de contos de fadas que conheci em minha infância: histórias mágicas sem grandes tragédias e nas quais o final era sempre feliz; nelas, seria impensável uma sala suja de sangue e com corpos de mulheres mortas, ou uma cena de assassinato tão explícita, descrevendo uma espada atravessando o corpo do vilão.

O contexto acadêmico de produção da tradução de Perrault exigia o suporte dos comentários. Em meu projeto escolhi trabalhar pensando em um contexto de produção fictício, considerando que esta tradução seria publicada por uma editora e seu público-alvo seriam crianças alfabetizadas de 7 a 10 anos. Após realizar as pesquisas para escrever este artigo, decidi alterar o projeto inicial: continuar trabalhando nos mesmos contextos de produção (real e fictício), mas focando em uma versão final da tradução que suavizasse as ideias patriarcais presentes no conto, mesmo que isso representasse um afastamento da tradução pró-fonte e transformasse a tradução em uma adaptação.

A partir da análise da versão final proposta ao conto La Barbe Bleue, este artigo pretende discutir a importância dos comentários para o tradutor e para os leitores, que estão inseridos em ambientes diferentes - público acadêmico e consumidores do mercado editorial. Em um primeiro momento, apresentarei os objetivos pretendidos e algumas das teorias consultadas sobre tradução comentada, contos de fadas e sua influência no aprendizado das crianças, e sobre a abordagem dos gêneros masculino e feminino presente na literatura infanto-juvenil. Explicarei, também, quais foram os métodos utilizados na tradução de La Barbe Bleue e os contextos de produção envolvidos; farei uma análise da última versão comentada do texto em português brasileiro e apresentarei as conclusões. Ao fim do artigo, incluirei como apêndices todas as versões da tradução e seus respectivos comentários.

Algum subtítulo diferentão

Os contos de fadas surgiram no século XVII e eram difundidos oralmente pelos camponeses em comunidades de adultos analfabetos. Os estudiosos afirmam que Charles Perrault, foi o primeiro autor a fazer registros escritos dessa literatura, modificando as histórias, mas sem alterar sua essência. Apesar de terem sido inicialmente planejados para o público adulto, agora os contos de fadas são voltados, sobretudo, às crianças; despertam sua curiosidade, estimulam sua imaginação, ajudam-nas no desenvolvimento do intelecto e desempenham um importante papel na construção da personalidade infantil quando entrelaçam alguns exemplos de boa conduta social em seu enredo.

O Barba Azul é um dos textos presente na obra Contos da Mamãe Gansa ou Histórias do Tempo Antigo, publicada em 1697, contendo oito contos em prosa finalizados com moralidades feitas em verso. A moral era uma preocupação constante para Perrault, que tinha por objetivo entreter e instruir seus leitores, especialmente as jovens damas da corte a quem pretendia amedrontar e advertir sobre os perigos da sociedade da época.

Considerando a liberdade oferecida pela disciplina de Tradução Comentada do Francês, optei por criar um contexto de produção fictício para a tradução que serviria de base para este artigo e que será apresentada em suas várias versões nos apêndices. No contexto real de produção, a tradução e o artigo servem como trabalho final da disciplina ministrada no curso de Letras; seu público-alvo são leitores acadêmicos, docentes e discentes, com conhecimento do francês (idioma do texto-fonte) e do português brasileiro (idioma do texto traduzido) e nas áreas de tradução e literatura. Para o contexto fictício, elaborei uma tradução destinada à publicação; neste caso, o texto seria avaliado por uma editora com objetivos comerciais

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