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A carta do leitor como gênero midiático

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Par   •  26 Juin 2016  •  Dissertation  •  5 525 Mots (23 Pages)  •  1 266 Vues

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A carta do leitor como gênero midiático

  1. Introdução

O presente artigo é resultado de um trabalho desenvolvido por alunos do curso de Letras na disciplina de Produção e Revisão de Textos em Língua Portuguesa em uma universidade paulistana. Tal disciplina objetiva ampliar, no aluno, a consciência dos mecanismos da linguagem e aprimorar suas técnicas de produção escrita.

Ressalta-se que não há, por parte do plano de ensino, a adoção de nenhuma teoria que pudesse embasar o trabalho de produção textual a ser desenvolvido pelos alunos durante as aulas. Entretanto, encontramos no conteúdo programático o trabalho com gêneros do discurso bem como uma alusão aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que preconizam um trabalho baseado na teoria dos gêneros.

Assim, para alicerçar o trabalho desenvolvido nas aulas, julgamos pertinente a adoção da teoria do interacionismo sociodiscursivo (doravante ISD) proposta pela escola de Genebra e cujos expoentes são Bronckart (2007) e Schneuwly e Dolz (2004), uma vez que, nessa perspectiva, a linguagem é considerada de seu ponto de vista social contribuindo para o desenvolvimento.

Neste artigo, apresentaremos um trabalho voltado ao desenvolvimento da produção textual dos alunos tendo como suporte o gênero “carta do leitor”. Assim, apresentaremos, inicialmente, os pressupostos teóricos do ISD que estão associados tanto ao trabalho textual quanto à noção de gêneros discursivos tal como proposta por Bakhtin (2006). Em seguida, atentaremos à importância do contexto de produção para o êxito da produção escrita e sua adequação ao gênero proposto – carta do leitor - cuja definição apresentaremos em seguida junto ao modelo didático do gênero (De Pietro e al.). Analisaremos, então, exemplos de produções textuais desenvolvidas no curso pelos nossos alunos e, nas considerações finais, buscaremos reafirmar as contribuições do ISD bem como os aportes trazidos à produção textual dos alunos a partir do momento em que foi adotada a teoria dos gêneros.

  1. A análise de textos pelo Interacionismo Sociodiscursivo

             Conforme nos define Cristóvão (2001), o interacionismo sociodiscursivo se caracteriza por uma ramificação da psicologia da linguagem apoiando-se em teorias de linguagem que abordam o social, defendendo ao mesmo tempo a idéia de que as condutas humanas são resultados de um processo histórico de socialização, marcado, sobretudo, pelo uso de instrumentos semióticos como a linguagem. Defende-se, então, nesta corrente, que os seres humanos agem em diversos contextos sociais através da linguagem. Para que este agir seja legitimado, certas regras devem ser respeitadas nos determinados contextos. Tais regras são aprendidas sociohistoricamente e não se referem apenas ao comportamento social das pessoas, mas também aos procedimentos de organização textual de seus enunciados e às suas escolhas lingüísticas, de acordo com a intenção comunicativa a ser desenvolvida dentro de uma dada esfera social.

      Como mencionado por Bakhtin (2006) e retomado por Bronckart (2007), cada esfera da atividade humana elabora, em sua comunicação, tipos estáveis e diversificados de enunciados: os gêneros discursivos ou textuais. Salientamos que Bakhtin (1953) nos fala em gêneros discursivos enquanto Bronckart (2007) nos fala em gêneros textuais e que adotaremos, aqui, a postura metodológica da escola suíça. Considerados formas estáveis de enunciados, os gêneros são instrumentos (SCHNEUWLY e DOLZ, 2004) que possibilitam a comunicação em situações habituais, estabilizando os elementos formais das práticas de linguagem. Não se caracterizam, ainda, por aspectos formais, sejam eles estruturais ou lingüísticos, mas sim por aspectos sócio-comunicativos e funcionais. É neste contexto que os gêneros textuais se constituem como ferramentas sócio-discursivas que nos auxiliam a agir no mundo e a descrevê-lo, constituindo-o de alguma forma. Seriam exemplos de gêneros uma receita de cozinha, uma carta de reclamação, uma ata, um comentário esportivo, uma tese, um resumo, um rótulo de produto, etc.

     Para que um trabalho possa ser desenvolvido sob a ótica dos gêneros textuais, faz-se necessária a adoção de uma teoria de análise textual que leve em conta as diferentes camadas do texto, definidas por Bronckart (2007) como estratos do folhado textual. Este folhado constitui-se de três camadas superpostas em contínua interação que são: a infra-estrutura geral do texto, os mecanismos de textualização e os mecanismos enunciativos.

     A infra-estrutura geral do texto é considerada pelo autor como o nível mais profundo do texto. Comporta o plano geral do texto bem como os tipos de discurso e as seqüências. O plano geral pode ser extremamente variável, uma vez que depende do gênero ao qual o texto pertence. Ele pode ser expresso num resumo, mostrando-se aparente no processo de leitura. Os tipos de discurso se traduzem por formas de organização lingüística e designam as diferentes camadas que o texto possui. Já as seqüências são as formas de planificação encontradas no interior de um tipo de discurso. Definidas por Adam (1992) em cinco tipos básicos (narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa e dialogal), elas podem ser combinadas no interior de um texto colaborando à heterogeneidade composicional do mesmo.       Bronckart (2007) retomando Adam (1992) acrescenta ainda a seqüência injuntiva ou descritiva de ações.

     Os mecanismos de textualização propiciam ao texto uma coerência linear ou temática através dos processos de conexão, de coesão nominal e de coesão verbal. Segundo o autor, os mecanismos de conexão contribuem para marcar a progressão temática e são realizados por unidades que denominamos organizadores textuais. Os mecanismos de coesão nominal introduzem os elementos e organizam sua retomada ou continuidade na seqüência do texto. Estes dispositivos que buscam recuperar os temas e ou personagens novos são realizados por estruturas chamadas de anafóricas. Os mecanismos de coesão verbal, por sua vez, são essencialmente realizados pelos tempos verbais, assegurando, assim, a organização temporal dos processos verbalizados no texto. Lembra-nos Bronckart (2007) que estas marcas estão sempre em interação com outras unidades de valor temporal como os advérbios e os organizadores textuais, por exemplo.

     O último nível do folhado textual proposto pelo autor suíço é o dos mecanismos enunciativos e de modalização, que garantem a manutenção da coerência pragmática do texto. Considerado o nível de análise mais superficial do folhado textual, contribui para os posicionamentos enunciativos (a presença de vozes e de modalizações) e apresentam algumas avaliações sobre determinados aspectos do conteúdo temático. As vozes são entidades que atravessam um texto expressando pontos de vistas do enunciador, confirmando a heterogeneidade do discurso. A modalização, por sua vez, explicita as avaliações do enunciador formadas sobre aspectos do conteúdo temático.

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