IMAGENS REFLETIDAS O CINEMA (synthèse en espagnol)
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Cite este artigo: TRIANA, Bruna Nunes da Costa. Imagens refletidas: o cinema, o eu e o outro
na trilogia das cores de Krzysztof Kieślowski. Revista Habitus: revista eletrônica dos alunos
de graduação em Ciências Sociais - IFCS/UFRJ, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p.54-67, dezembro.
2010. Semestral. Disponível em: www.habitus.ifcs.ufrj.br. Acesso em: 31 de dezembro de. 2010.
Resumo: Adotando o cinema como campo de pesquisa, passível de observação e interpretação,
o objetivo deste trabalho é analisar a especificidade da relação entre cinema e sociedade,
pensando os filmes como produtos culturais. A partir da abordagem antropológica, procuramos
analisar a experiência cinematográfica e perceber de que forma o cinema, e em particular os três
filmes da Trilogia das Cores de Krzysztof Kieślowski, narra e constrói a imagem do outro.
Palavras-Chave: Antropologia Visual; Cinema; Alteridade; Kieślowski; Trilogia das Cores.
s imagens em movimento, desde sua origem, em fins do século XIX, causaram
excitação e espanto. Das primeiras imagens de Lumière [1] aos filmes em tecnologia
3D, mais de um século se passou. Nessa longa trajetória de desenvolvimento histórico,
que acumulou aprimoramentos e invenções narrativas, estéticas e tecnológicas, como o cinema
filmou o outro? É esta a pergunta que nos move, evidentemente, numa dimensão modestamente
mais reduzida, visto que analisar as imagens do outro produzidas no decorrer de toda a história
do cinema não caberia no curto espaço de um artigo. Ademais, nossa intenção aqui, além de
tomar um ponto particular dessa história, é a de estudar um cinema bem específico, e um outro
de igual especificidade; ou seja, nosso objeto e nossa problemática constituem uma perspectiva e
uma interpretação do mundo e do outro bastante determinadas.
Dessa maneira, o ponto escolhido nessa longa história é a obra Trilogia das Cores, do
diretor polonês Krzysztof Kieślowski (1941-1996), produzida entre 1992 e 1994, na França e na
Polônia, no contexto do bicentenário da Revolução Francesa (1789), e, ainda, justamente
quando se assinava o Tratado de Maastricht – em 7 de fevereiro de 1992 –, que instituia a hoje
já consolidada União Européia (U.E.). A Trilogia das Cores é composta pelos filmes Bleu
(França, 1993), Blanc (Polônia, 1994) e Rouge (França, 1994). Os filmes em questão são, além
da tentativa de elaborar uma leitura crítica da Europa, uma proposta para refletir sobre a
alteridade no contexto de crise do Estado-nação e de espetacularização das relações sociais. Isso
confirma nossa proposição inicial de que a Trilogia faz parte de um cinema específico,
porquanto entendemos que ela integra um cinema contemporâneo que “enfatiza as
descontinuidades no interior do nosso presente, as fissuras do Estado-nação, do mundo
globalizado, do humanismo universalista, das classes sociais, das identidades, das culturas”
(FRANÇA, 2005: 36).
www.habitus.ifcs.ufrj.br 54
Revista Habitus – IFCS/UFRJ Vol. 8 – Nº 2 – Ano 2010
Ao mesmo tempo em que tais filmes acusam, do ponto de vista de um “não-europeu”
[2], os obstáculos do encontro, tão historicamente tenso, entre “the West and the rest” (para
utilizar a famosa expressão de Marshall Sahlins), eles buscam uma abordagem distinta da
alteridade para os dias atuais. Como a Trilogia consegue, então, criar formas de visibilidade
para o lugar do outro no mundo globalizado? A fim de responder essa questão, temos o intuito
de problematizar categorias antropológicas básicas, como etnocentrismo, diferença e alteridade,
sobretudo a partir das referências suscitadas pelas imagens acerca da tentativa de constituição
de um “bom encontro” [3] na contemporaneidade, na qual impera, nas relações sociais, uma
radical assimetria entre o nós e os outros.
Como define o antropólogo francês Marc Augé (1998: 9-10), a Antropologia é quem se
preocupa com o lugar do outro no conhecimento, quem problematiza, de fato, as questões
centrais de identidade e de alteridade. A “questão da alteridade aqui é central; ela sempre o foi
para a antropologia, mas deixa-se desdobrar mais claramente hoje: o antropólogo deve,
efetivamente, identificar outros (aqueles que ele estuda) e questionar-se sobre a relação deles
com a alteridade [...]” (AUGÉ, 1998: 18).
É justamente a preocupação da Antropologia com o outro, com a alteridade, que nos
incentivou a abordar o cinema como campo desta pesquisa. A arte, como atenta Geertz (1997), é
um elemento essencial da vida social, ela denota e divulga modos de se pensar a vida. Os
sentimentos que um povo tem pela vida surgem e são transmitidos, expressados, na moral, no
direito, na ciência e, também, na arte. Dessa forma, a expressão artística deve ser entendida
como um sistema cultural, assim como a religião, o parentesco e as leis morais, que igualmente
revelam
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